Entrevistas

Waldir Mendes Ramos

Atual presidente da Associação Brasileira de Masters de Natação, Waldyr Mendes Ramos já foi técnico da Seleção Brasileira de Pólo Aquático, é Professor Adjunto da EEFD da UFRJ e, como se não bastasse,também é treinador de nadadores masters no Iate Clube do Rio de Janeiro. Leia a entrevista e conheça um pouco mais sobre as idéias desta lenda vida da natação master brasileira.

Waldir, como e quando iniciou seu envolvimento com a natação master?

Meu primeiro contato com os masters foi nos EUA, em 1976, observando o treinamento de uma equipe. Eu estava lá como técnico da Seleção Brasileira de Pólo Aquático em um estágio para treinamentos e jogos. De volta ao Brasil iniciei contatos com a Federação Aquática do Estado do Rio de Janeiro que, em 1980, organizou a primeira competição de masters oficial. Eu estava lá, nadando.

Como é seu dia a dia? A ABMN te consome muito tempo?

Eu sou professor Adjunto da Escola de Educação Física e Desportos da UFRJ. A maior parte do meu tempo dedico às tarefas na universidade. Ministro três disciplinas, oriento monografias e presido a Comissão de Reforma Curricular. Trabalho, também, com um grupo de nadadores masters no Iate Clube do Rio de Janeiro, ás terças e quintas-feiras, das 6:00 às 8:00 horas. São duas turmas com uma hora de treinamento cada. Treino natação quase que diariamente, faço musculação duas vezes por semana e jogo pólo aquático às sextas-feiras.

Quando assumi a Presidência da ABMN ocupei uma boa parte do meu tempo na reestruturação de rotinas, elaboração e discussão de propostas novas, etc. Conto com diretores, coordenadores e funcionárias excelentes que colaboram bastante, cada um dentro de sua área específica. Por outro lado, nossa proposta de atuação previa a descentralização de várias ações. Assim, acredito que meu trabalho, hoje, é o de coordenar as várias fases em que a ABMN é a principal responsável, nos eventos que fazemos com as Associações de Masters ou Federações Aquáticas. Há períodos, portanto, em que uso boa parte do meu tempo com tarefas da ABMN.

Conte-nos um pouco sobre sua carreira de atleta, como nadador e jogador de water polo.

Aprendi a nadar aos 13 anos. Depois de muitas dificuldades, cheguei a ser desligado da equipe do meu clube por falta de aptidão. Insisti e aos 17 era recordista brasileiro em duas provas (400m medley e 200m costas). Participei dos Jogos Pan Americanos de Winnipeg, Canadá em 1967, obtendo a medalha de bronze no revezamento 4 estilos. Aos 16 anos comecei a jogar pólo aquático. Acredito que a melhora que tive na natação deveu-se aos treinamentos de pólo aquático que, de certa forma complementavam os treinamentos e natação que, naquela época não eram tão grandes quanto hoje.

Você detém vários recordes brasileiros e sul-americanos na categoria master, isso quer dizer que até hoje você procura seguir uma rotina disciplinada de treinos?

Eu não treino muito. Este anos venho nadando durante uma hora, no máximo cinco vezes por semana, quando os compromissos permitem. Creio que o importante é manter-se em treinamento, sempre, mesmo que seja um volume pequeno.

Goiânia foi sede, pela primeira vez, de um Campeonato Brasileiro de Masters de Natação, em sua 36ª edição. Você e toda a equipe da ABMN deixaram uma ótima lembrança para os goianos. Como você avalia o evento e quais as chances de sediarmos uma outra competição deste porte?

Acho que a competição foi muito boa e elogiada por todos. Vocês fizeram um ótimo trabalho. Não é fácil organizar um evento para masters, o grupo é muito heterogêneo. Eu acho que vocês têm todas as credenciais para organizar outra competição de nível nacional. O parque aquático é muito bom e bem localizado. A cidade agradável com um povo bastante hospitaleiro e há atrativos turísticos. Acho que vocês deveriam se candidatar novamente.

Que dica você daria às Associações Regionais quanto a captação e manutenção de novos atletas? Em Goiás, temos um potencial relativamente grande, um número de atletas já cadastrados em competições que ultrapassa a casa dos 600, mas raramente reunimos mais de 150 atletas em uma competição local.

Acho que esta é uma questão de difícil resposta. Acredito ser uma característica do nadador master, há muitas exceções, treinar para um determinado evento e abandonar por um tempo para retornar novamente. Meu palpite é que, dentre outras coisas, precisamos capacitar melhor os profissionais que atuam na preparação de nadadores. Vários aspectos envolvem o treinamento e a manutenção de um grupo unido em torno de objetivos comuns.

As competições precisam ser bem organizadas e não podem ser longas, as medalhas devem ser bonitas e tem que haver envolvimento dos professores ou técnicos.

Há um consenso sobre o excelente trabalho que você vem fazendo à frente da ABMN. Quais serão os próximos projetos a serem desenvolvidos pela entidade? Há chances de o Brasil sediar um campeonato mundial?

Eu agradeço tua avaliação. Costumo dizer que eu sou o "algodão entre cristais" e conto com uma diretoria, coordenadores e funcionárias excelentes. Acho que a ABMN tem que estreitar mais os laços com as Associações de Nadadores Masters e Federações Aquáticas. é necessário organizarmos um evento anual para nos reunirmos e traçarmos metas comuns. A natação master cresceu no Brasil de forma desordenada, sem políticas pré-definidas, às custas do modelo competitivo do esporte de elite. A natação master é muito diferente e deveria ter programas com objetivos diferentes. A competição é importante mas temos que pensar em outras formas de crescimento.

Acredito que o Brasil tem chance de sediar um campeonato mundial e, talvez nos candidatemos ao campeonato de 2008.

Finalizando, qual o recado que você gostaria de deixar aos nadadores de Goiás, até mesmo a título de incentivo para que participassem com mais assiduidade dos campeonatos promovidos pela ABMN?

Eu gostaria, primeiramente, de parabenizá-los pelo excelente trabalho que vêm realizando. Acho que temos que dimensionar a natação máster através do paradigma da saúde. Morrem, no Brasil, anualmente, cerca de 300.000 pessoas por doenças relacionadas ao coração. Hoje nossa sociedade possui cerca de 14,5 milhões de idosos, em 2025 seremos 25 milhões e não estamos preparados para o atendimento desta população. A atividade física intensa, proporcionada pelo treinamento, pode contribuir para que o envelhecimento seja melhor aproveitado.

A natação é o único esporte que as pessoas idosas podem praticar sem riscos de acidentes ou lesões. Temos que preparar os idosos de 2025. Acho que temos uma grande responsabilidade com as gerações futuras e o esporte é um bom caminho.

Muito obrigado pela oportunidade e muito sucesso para a Associação Goiana de Masters de Natação.

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